“...Essa mais pungentes sentia ainda as saudades. Sempre assim acontece. Em todas as separações, tem mais amargo quinhão de dores, o que fica, do que o que vai partir. A este esperam-no novos lugares, novas cenas, novas pessoas; sobretudo espera-o o atrativo do desconhecido, que de antemão lhe absorve quase todos os pensamentos. Vai experimentar outras sensações, e, à força de distrair os sentidos, é raro que não acabe por distrair o coração. Mas ao que fica... lá estão todos os objetos que vê a recordarem-lhe as venturas que perdeu; ali, as flores que colheram juntos, para as trocas depois; acolá, a árvore, a cuja sombra se sentaram; além, o ribeiro, que arrebatou na corrente as pétalas, desfolhadas um dia, ao bem-me-quer fatídico, que os amantes interrogam; o tronco, onde se gravaram unidas as iniciais de dois nomes; o canto dos pássaros, que tantas vezes escutaram; o ponto da perspectiva, mais procurado pelas vistas de ambos … Oh! Há bem mais alimentos para as saudades assim! E depois, o que se ausenta vai esperançado nisto mesmo, em que a afeição, que deixa, lhe será fielmente mantida até à volta; que evitarão o esquecimento das promessas feitas tantas testemunhas que as presenciaram e que, sem cessar, as recordarão; os que ficam antevêem que, longe de tudo que possa falar-lhes delas, pouco a pouco se varrerão essas promessas da memória do ausente, e, ao dizer o adeus da despedida, um amargo pressentimento lhes segreda que dizem adeus a uma ilusão.”
As Pupilas do Senhor Reitor
Júlio Dinis